Bancários usaram tecnologia a seu favor em mais uma campanha vitoriosa

A categoria bancária soube utilizar a tecnologia a seu favor e conseguiu sair vitoriosa de mais uma campanha salarial realizada em um contexto extremamente difícil. Esse foi um dos pontos destacados pela presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, em live nesta terça-feira 20. Com o tema “Campanhas salariais após a reforma trabalhista: obstáculos e alternativas”, a live realizada pela tv PT entrevistou, além de Ivone, a secretária da Federação Nacional dos Trabalhdores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect), Amanda Corcino.

Ivone ressaltou que se a conjuntura já era desfavorável aos trabalhadores - uma vez que os ataques, desde o governo Temer, se intensificaram no governo Bolsonaro -, ficaram ainda pior com a chegada da pandemia de coronavírus. E que foi nesse cenário que os bancários tiveram de reinventar a mobilização e usar a tecnologia como forma de superar o distanciamento social obrigatório.

“Já em 2018, sob a reforma trabalhista que entrou em vigor no final de 2017, conquistamos, sem a necessidade de greve, um acordo com manutenção dos nossos direitos por dois anos. Neste ano, nos deparamos com um fator totalmente novo: além de um governo ultraliberal, tivemos a pandemia. Com a metade dos bancários em home office [uma conquista do movimento sindical bancário para proteger a vida dos trabalhadores], fizemos uma campanha virtual. E conseguimos arrancar um novo acordo de dois anos, garantindo as cláusulas da nossa CCT até 31 de agosto de 2022, mais reajuste de 1,5% sobre os salários este ano, mais abono de R$ 2 mil; e reposição da inflação mais aumento real de 0,5% sobre salários e demais verbas em 2021.”

A dirigente lembrou que foram 15 rodadas exaustivas de negociação com a Fenaban (federação dos bancos) e que nas primeiras 10 rodadas os bancos vieram pra cima da categoria, propondo retirada de direitos, como PLR menor, reajuste zero, retirada da 13ª cesta alimentação e redução da gratificação de função. “Os bancos vieram pra mesa sedentos e nas primeiras rodadas propuseram retirada de direitos. Mas nós mostramos que mesmo com a pandemia, conseguimos nos mobilizar: fizemos tuitaços e por diversas vezes conseguimos emplacar nossa mobilização nos temas mais comentados do Twitter; fizemos carreata; realizamos lives e assembleias e plenárias virtuais transmitidas pelo Youtube e Facebook; montamos um esquema para informar imediatamente os bancários sobre as propostas rebaixadas da Fenaban, por meio de posts nas redes sociais e enviando informações pelo whatsapp às nossas bases. Usamos a tecnologia a nosso favor, e os bancos perceberam que nossa mobilização se mantinha forte, por todo o país. Assim conseguimos que eles recuassem na retirada de direitos e saímos da campanha vitoriosos, com um acordo que resguardou todas as cláusulas da nossa CCT”, ressaltou Ivone.

A dirigente, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários (que representa a categoria na mesa com a Fenaban), destacou ainda que a força da categoria vem de conquistas de décadas anteriores. “A força da nossa organização começou lá atrás: desde o início da década de 2000 conseguimos, por meio da Contraf-CUT [Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro], coordenar uma campanha nacional. Assim, toda a nossa mobilização é realizada e tem repercussão em todo o país: nossas ações nas redes foram feitas por todos os estados, nossa campanha de mídia é uma só, nossas atividades, como a carreata e os tuitaços, foram feitas de norte e sul do país. Além de nacional, nossa campanha é unificada: sentam na mesa de negociação bancos privados e bancos públicos. Isso nos fortalece enquanto categoria”, explicou.

Ela lembrou que a Caixa e o Banco do Brasil, geridos hoje por um governo antitrabalhista, também iniciaram as negociações tentando retirar direitos, mas que a união dos trabalhadores de bancos públicos e privados foi novamente fundamental na correlação de forças, e essas tentativas coordenadas pelo governo Bolsonaro também foram revertidas na mesa e com a mobilização de toda a categoria.

Correios
A campanha dos Correios - estatal que, assim como BB e Caixa, está na mira da privatização do governo federal - não pode se valer das mesmas condições. Foi para dissídio coletivo e teve uma decisão contrária aos trabalhadores pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Coordenada pelo ministro Ives Gandra, defensor da reforma trabalhista, a decisão excluiu 50 cláusulas da CCT dos trabalhadores dos Correios. “Ficaram somente 29, e essas 29 são de pouca relevância. A maoiria dos ministros votou com Ives Gandra. A relatora da ação, a ministra Katia Arruda disse que nunca havia visto todo um acordo coletivo ser destruído em poucas horas. Foi na campanha salarial deste ano que nós sentimos na pele os efeitos da reforma trabalhista”, comentou Amanda Corcina, da Fentect.

“Foi o desmonte de mais de 20 anos de luta de uma categoria. Eles [governo e TST] quiseram nos usar como exemplo do que acontece aos trabalhadores quando eles se mobilizam. Mas nós não saímos de cabeça baixa: o capital político que alcançamos nessa campanha foi enorme. Conseguimos mostrar para muitos trabalhadores o que significou votar nesse governo. E tivemos muita solidariedade de outros sindicatos e da CUT. E isso nos dá força para continuar lutando:, conclui a dirigente dos Correios.

Para Ivone, as campanhas dos bancários e dos empregados dos Correios mostram a importância da organização dos trabalhadores em seus sindicatos. “Fortaleça o seu sindicato. Não é a toa que o governo está atacando os sindicatos: está fazendo isso porque eles são extremamente importantes para os trabalhadores; são sindicatos fortalecidos que fazem a diferença. Portanto sindicalize-se e participe da luta ao lado de seu sindicato”, concluiu.