Dallagnol e Moro são desmascarados novamente em novos diálogos divulgados nesta semana

Os ditos detentores da ética e do combate à corrupção voltam à cena e são desmascarados novamente em novos diálogos divulgados em parceria com o The Intercept Brasil e pela revista Veja desta semana. Os diálogos mostram que o procurador Deltan Dallagnol manteve “encontros fortuitos” com o desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e diálogos “impróprios” com o juiz Sergio Moro. 

Os áudios mostram íntima relação entre a acusação e o responsável por julgar, em segunda instância, os processos montados em Curitiba. 

“Falei com ele (Gebran) umas duas vezes, em encontros fortuitos, e ele mostrou preocupação em relação à prova de autoria sobre Assad…”, diz Dallagnol ao procurador Carlos Augusto da Silva Cazarré, que atua junto ao TRF4, solicitando a ele que “sondasse” o desembargador sobre o acusado Adir Assad, tido como “operador de propinas” na Petrobras, preso pela Lava Jato e condenado em 2015.

As conversas que ocorreram em julho de 2017, pouco mais de um mês antes de Assad fechar acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato, revela o próprio Dallagnol se divertindo com a ilegalidade cometida: “nova modalidade de investigação: encontro fortuito de desembargador”, acompanhado de emojis de gargalhada. “Hahahaha”, respondidos por Cazarré. E ainda pior, Dallagnol pede ao colega de Porto Alegre sigilo sobre o encontro “para evitar ruído”. 

Tais revelações escancaram a parcialidade da justiça brasileira de acordo com os áudios nos diálogos reproduzidos fielmente pela revista Veja. “Cazarré, tem como sondar se absolverão assad? (…) se for esse o caso, talvez fosse melhor pedir pra adiar agilizar o acordo ao máximo para garantir a manutenção da condenação…”, escreve Dalla­gnol. “Olha Quando falei com ele, há uns 2 meses, não achei q fisse (sic) absolver… Acho difícil adiar”, responde Cazarré. 

Tudo entre amigos  
Gebran foi o relator do recurso do recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no TRF4, em janeiro de 2018. Ele não só manteve a condenação de Moro, no caso do apartamento do Guarujá, como ampliou a pena para 12 anos e um mês, enquadrando o ex-presidente na Lei da Ficha Limpa, em mais um passo para impedir a candidatura de Lula em 2018. Em sua decisão, ele afirmou que inexistência de documentação que comprove Lula como proprietário do imóvel não impedia a caracterização do crime de lavagem de dinheiro.  

Ele também rejeitou a denúncia apresentada pela defesa de que Moro quebrou o sigilo telefônico do escritório dos advogados de Lula, mais uma das ilegalidades cometidas que confirmariam a parcialidade do juiz de Curitiba. Conhecido de longa data do agora ministro da Justiça, Gebran foi citado por Moro como “amigo” em agradecimento incluído em sua tese de doutoramento, em 2002.

De herói a bandido
O vazamento das conversas revelados pelo The Intercept Brasil abalaram as estruturas. Na semana passada, reportagem de capa da revista trouxe diálogos que demonstram que Moro atuava como comandante das próprias investigações que iria julgar na sequência, sugerindo os procuradores a produção de provas, revisando peças processuais e dando broncas, atitude absolutamente incompatível com a função de um juiz, que deveria manter equidistância entra as partes – defesa e acusação –, em nome da imparcialidade do julgamento.  A própria revista reconheceu que, nos últimos anos, tratou Moro como “herói nacional”, mas agora, após ter tido acesso ao arquivo recebido pelo de uma fonte anônima pelo The Intercept Brasil, reconhecem que os processos comandados pelo então juiz não se deram de acordo com a lei.