Prova de vida nas casas e em hospitais por funcionários do BB é tragédia anunciada

Depois de ter enviado um boletim interno orientando os funcionários a aproveitar a prova de vida dos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para vender produtos e serviços, o Banco do Brasil colocou superintendentes de todo o país para enviar áudios aos gestores de agências para convencê-los a enviar funcionários para as casas de beneficiários, e até em hospitais, para realizar a prova de vida, sem segurança, sem vacina e sem amparo legal para tanto.

O ponto 12.9 da Instrução Normativa, sobre a realização de prova de vida pelo banco, diz que ela “poderá ser realizada por funcionário BB fora do ambiente da dependência, em casos excepcionais, quando o beneficiário estiver impossibilitado de se locomover, ou estiver acamado/hospitalizado”.

“Alteraram uma Instrução Normativa deixando um texto dúbio para amparar a saída dos funcionários”, disse o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga. “As denúncias que chegaram até nós são de que os áudios eram em tom de ameaça a quem se recusar a fazer a prova de vida, ou, se houver reclamação, o funcionário perderá o semestre no Conexão, na PLR e no PDG”, completou.

O Conexão e o PDG (Programa de Desempenho Gratificado) são programas de premiação de desempenho dos funcionários, medidos de acordo com metas definidas pelo banco. A PLR é a Participação nos Lucros e/ou Resultados, definida em Lei, na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria e no Acordo Coletivo de Trabalho específico do banco.

“São ameaças absurdas! Jamais um funcionário deve ser ameaçado desta maneira. Mas, são coisas que acabam acontecendo quando o banco não é transparente com relação à definição das metas e de quem deve ser, ou não premiado. Fica no subjetivismo que descambam para o tipo de coisa que está acontecendo”, disse Fukunaga. “O mais absurdo é que isto vem da área de negócios de varejos, comandada por vice-presidente elevado do cargo de superitende de forma repentina por ter apoiado o atual Presidente da República desde a campanha eleitoral. Mais uma medida criada sem qualquer preocupação com a vida das pessoas, neste caso dos funcionários do Banco do Brasil”, completou.

Prova de vida

Com relação à realização da prova de vida pelos funcionários do banco, o coordenador da CEBB explica que ela só poderia ser feita nas dependências da agência e apenas para os beneficiários que têm conta no banco.

“Mandar os funcionários realizarem atendimentos fora das dependências das agências vai contra o que está estabelecido no contrato de trabalho. A Instrução Normativa alterada pelo banco para permitir este atendimento não tem amparo legal”, explicou Fukunaga. “Daqui a pouco vão querer obrigar os funcionários a irem aos hospitais para realizar a prova de vida. Em uma situação normal isso já seria grave. Com uma pandemia estabelecida no país isso é ainda pior. Os funcionários não estão preparados para realizar este tipo de serviço. E nem precisam se sentir obrigados a fazê-lo”, disse. “Mas, tudo isso faz parte da política de sucateamento e ataques ao banco e aos funcionários e às suas imagens”, completou.

Problemas à vista

Para o coordenador da CEBB, colocar bancários para realizar serviços de assistência social e em ambientes fora do banco, sem que os mesmos tenham a devida capacitação, pode gerar sérias consequências para todos. “Esta é uma responsabilidade do INSS, que como o nome diz, trabalha com serviço social. O problema é que o governo também sucateia o INSS e, por isso, este não consegue atender toda a demanda. Além disso, em plena pandemia, obriga as pessoas, muita vezes acamadas, ou impossibilitadas de se locomover, a realizarem prova de vida, colocando-as em risco. Depois, não quer ser responsabilizado pela morte das mais de 500 mil pessoas que morreram de Covid-19″, observou Fukunaga.

“Mas, responsabilizar os bancários por um atendimento para o qual eles não estão preparados e sem amparo legal, nem segurança sanitária, é no mínimo irresponsabilidade, ou sensacionalismo”, disse o representante dos funcionários ao se referir à reportagem veiculada pelo telejornal RJTV, da Rede Globo no dia 16 de junho. “Jogar a culpa no bancário é fácil. Quero ver a jornalista fazer o verdadeiro jornalismo e ir a fundo no problema, que vai muito além das paredes da agência e chegam às vidraças do Palácio do Planalto, passando também pelo Congresso Nacional”, desabafou.

O telejornal da Globo no Rio de Janeiro exibiu uma reportagem de uma senhora de 86 anos, que estava acamada e não conseguiu fazer a prova de vida pelos meios digitais indicados pelo INSS. Por isso, foi levada pela filha em um carro para fazer a prova de vida em uma agência do Banco do Brasil.

“É triste. Mas, é preciso dizer que muitos outros casos devem ocorrer Brasil afora. Culpa dos funcionários já sobrecarregas que restam nas agências e que não receberam sequer capacitação para realizar o serviço? Claro que não. É de quem diz que o banco já era para ter sido privatizado, mas que joga para o Banco do Brasil os casos de emergência”, disse Fukunaga, ao lembrar das declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes.

“É por isso que estamos em constante campanha em defesa dos bancos públicos e nesta semana iniciamos um processo intensificação desta defesa em decorrência dos incessantes ataques do governo”, concluiu.

Quadro reduzido de funcionários

Além disso, o coordenador da CEBB também lembrou que os programas de desestruturação do banco, implantados desde 2016, reduziram drasticamente seu quadro de funcionários. “Existe sobrecarga de trabalho. Em muitos casos, gerentes precisam realizar todas as operações bancárias por falta de funcionários”, afirmou. “Imagina incluir a obrigação de se fazer prova de vida de beneficiários do INSS nas casas e hospitais. O gerente sai e deixa uma plaquinha ‘volto já’ grudada na porta?”, questionou o coordenador da CEBB?

Desde 2016, o banco passou a reduzir o número de agências e de funcionários para se adequar ao mercado. De lá pra cá, o banco fechou 5.161 postos de atendimento e reduziu 17.518 vagas no quadro de funcionários.

“Não se trata de reestruturação, como anunciam pela imprensa. É uma desestruturação, que visa prejudicar a imagem do banco e de seus funcionários, com o objetivo de privatizar o banco sem que haja reclamações da sociedade”, disse.