Santander despreza as vidas de trabalhadores ao descumprir lockdown na Baixada Santista

O Santander descumpriu o decreto que determinou lockdown nos municípios da Baixada Santista e iniciou a terça-feira 23 – primeiro dia com regras mais restritivas para circulação e abertura do comércio –– com todos os funcionários trabalhando internamente. A informação é do Sindicato dos Bancários de Santos e Região.

“Com este desrespeito ao lockdown da região, mais do que afrontar o poder público, o Santander afronta a sociedade, banalizando a vida de bancários que precisam se deslocar em meio a um lockdown pra bater metas. Ou seja, para o Santander a vida não importa”, critica Lucimara Malaquias, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander e diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. 

Os prefeitos das cidades de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão, Mongaguá, Praia Grande e Peruíbe foram taxativos em seus decretos de vedar o serviço interno dentro das agências bancárias, a não ser para segurança e manutenção. 

Em todos os decretos das cidades mencionadas acima existem um artigo especificando isso: "Nas agências bancárias ficam autorizados exclusivamente os serviços de autoatendimento, vedados os serviços e atividades internas, ressalvados os relacionados à segurança e à manutenção." 

Itanhaém e Bertioga não seguem acordo do Condesb
Ainda de acordo com o Sindicato dos Bancários de Santos e Região, apenas as cidades de Itanhaém e Bertioga não seguiram na totalidade o acordo firmado pelo Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), formado pelos nove prefeitos que compõem o conglomerado urbano. 

“Com isso, liberaram o atendimento presencial dentro das agências bancárias. Conforme denúncia, isso acarretou filas, desde a manhã de hoje (23), na agência do Santander Itanhaém/SP. Colocando em risco a vida de todos”, afirma Fabiano Couto, dirigente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e funcionário do Santander.

O Sindicato dos Bancários de Santos e Região está fiscalizando e denunciando o não cumprimento dos decretos em todas as cidades da região metropolitana.

“Enquanto se deterioram os indicadores de fome, desemprego e mortes em decorrência da covid-19, além de os leitos de UTIs públicas e privadas estarem lotadas, o presidente do Santander Brasil vem a público defender que não podemos deixar o medo nos dominar, o que soa como desprezo às vítimas do coronavírus no país. Um descaso às famílias das vítimas que merece toda a indignação da sociedade pela postura da direção do Santander e também solidariedade aos bancários que permanecem expostos na linha de frente”, lamenta Lucimara. 

Sérgio Rial adota postura que despreza a vida dos trabalhadores 
Em uma mensagem controversa, o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, escreveu que “liberdade é também não temer tanto”, se referindo ao contexto em que “o pânico da ausência de ar e de morrer no seco se aproxima de todos nós”. Ele vai além: “E se for para ter medo, que seja o medo de perder a coragem”, disse, em uma citação atribuída a Inês Saibert. “Algum medo nos fortalece, muito medo nos desumaniza”, completa Rial. No artigo, o presidente do Santander ainda diz que em sua vida ele não tem “muitas regras”. “Elas me diminuem naquilo que julgo ser a grandeza do humano: a ausência do limite”.

Mais de duzentos economistas, banqueiros e empresários divulgaram carta aberta no último final de semana pedindo mais medidas de prevenção à covid-19 e distanciamento social, refutando o “falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável”.

Na contramão da iniciativa, o presidente do Santander no Brasil, Sergio Rial, escreveu em suas redes sociais na sexta-feira 19 o texto em que pede a reflexão “sobre o poder da liberdade”. A informação foi publicada na coluna Painel, da Folha de S.Paulo.


“Existem limites pra arriscar a vida, e pra milhares de brasileiros já ultrapassamos o limite da fome, do desemprego, da vida, da dignidade. E o que Santander só tem contribuído com o desemprego e com o desespero dos seus funcionários, que permanecem na linha de frente arriscando a vida em nome do lucro” afirma Lucimara Malaquias.